Dol(ly)
Conhece
os Marretas? “São uns bonecos que
tornaram especiais os momentos passados em frente ao pequeno ecrã pelos actuais
velhos como a Sé de Braga ou os velhos do Restelo”, adianta o leitor. Porém,
refiro-me a um grupo de quatro individualidades muito especiais, com os pés
assentes na amizade. Além dos habituais encontros pautados por salutar
ambiência e pelo comum gosto de escutar música em formato vinilo, a par da
disponibilidade para investigarem novas linguagens sonoras, frequentam
concertos e assistem a transmissões televisivas de sofridas partidas de 22
pares de pernas a perseguirem, em debandada, um esférico outrora denominado
Tango, e por ocasião do Campeonato do Mundo de Futebol no Brasil, promovido ao
epíteto Brazuca.
Decorrido
um encontro algures na Quinta do Conde, onde esteve um aspirante a Marreta e
uma individualidade “doutorada” em prensagens vinílicas, aquando a audição de
várias edições de «Blue train» -
primeiro álbum de John Coltrane -, o “doutor”, debruçando-se em argumentos
sobre os exemplares ouvidos, ao mesmo tempo que hidratava a garganta com Hedges
& Butler (whisky de 8 anos e 43%
de volume de álcool), ao referir que “nenhuma
dessas edições é da DOL”, despertou em mim, uma reflexão sobre a lógica,
muitas vezes oculta, que preside às frases proferidas.
Endeusamento do que quer que seja é hoje muito frequente, sendo algo que
incomoda-me. Até porque tal colocação nos píncaros ancestrais, retira mérito a
boas iniciativas e produtos que, em matéria de edições discográficas são
olhadas com desdém nos escaparates, pois carecem do selo de uma editora de
renome. Este princípio faz com que muitas vezes, outras boas opções acabem por
ser esquecidas. Por outro lado, a memória é curta e, por conseguinte, muitos
estão esquecidos que, assim como existem excelentes edições originais em LP,
também há medíocres.
Com
franqueza, quando foi dito que “nenhuma
dessas edições é da DOL”, fiquei atónito… Lembrei-me das críticas ao
primeiro mamífero clonado com sucesso a partir de uma célula adulta – ovelha
Dolly – a 5 de Julho de 1996. Até parece que é banal tudo o que não tenha a label Analogue Productions, Blue Note,
CBS, Impulse, Mobile Fidelity ou Verve!
Sendo
pragmático e racional, eis algumas considerações: de que adianta adquirir
edições XPTO que possivelmente nunca irão rodar no gira-bolachas (vulgo
gira-discos), por não se enquadrarem no gosto pessoal? Assim, de que adianta a
aquisição de tais edições para numa conversa, dar a entender que tem a
fantástica edição? De que adianta prescindir de exemplares que não são más
clonagens, sendo a resposta para poupar-se alguns “euricos” em comparação ao
valor sobrecarregado das edições maravilha?
Quanto às
edições consagradas, entendo que sejam apetecíveis. Mas se soubermos ouvir sem
preconceitos outras prensagens, verificamos a existência de edições que alargam
o lote de opções, respondendo à procura crescente de títulos em vinilo. Desde
2012, os exemplares da DOL, sem ser réplicas idênticas, vão surpreender o
ouvinte pela qualidade em função de fruir de audições que provocam sorriso no
semblante. Ouça e aprecie as clonagens de Charles Mingus - «Mingus ah um» (DOL717), Dave Brubeck Quartet - «Time out» (DOL705), «Relaxin´ with» The Miles Davis Quintet
(DOL720), Muddy Waters - «At Newport» (DOL009),
Chet Baker - «In New York» (DOL749) e
«Chet» (DOL758).
Blá-blá-blá com a antiga grafia: Ghost4u
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