Com um atraso relativo, aqui fica a reportagem prometida de Russ Ballard.
*Vamos aquecer mais um bocadinho até ao grande Russ Ballard, que está quase aí. Vocês já estão bem speedados*, disse o vocalista dos Faithfull que, juntamente com a Alcoolémia, cumpriram honrosamente a programação de produção nacional no início da sexta noite do Verão 2009, no Campo Pequeno.
É irrefutável que Ballard é um guitarrista considerado pela sua dilatada experiência e pelo talento na produção e como songwriter para nomes sonantes (Elkie Brooks, Kiss, Leo Sayer, Roger Daltrey, Santana...) da música Pop e Rock. Porém, decorridos vários anos de ausência desde a edição de «Seer» (1995), poucos esperavam que o veterano britânico estivesse disposto a viajar para conceder espectáculos de apresentação do disco novo * o número 9 na sequência de álbuns originais iniciada à 34 anos, em 1975.
A apresentação ao público lusitano foi, inegavelmente, um acontecimento por constituir a primeira vez que pisava um palco na nação mais ocidental do Velho Continente. Sem acusar a responsabilidade da obrigatoriedade de corresponder às expectativas geradas pela assistência, constituída por interessante variedade de idades (crianças, teenagers, jovens e *cotas*), rodeou-se de quatro músicos de notável capacidade técnica para presenteá-la com a electricidade das canções novas que não deixam indiferente qualquer apreciador de Rock FM, misturando os habituais standards da sua carreira.
Iniciada a actuação às 22:15 com «It´s my life (stand in my shoes » * faixa de abertura do novo álbum * antecedeu a abordagem realizada em sons calmos provindos das teclas, que ganham gradualmente contornos mais explícitos do hit que fez história no Outono de 1984, fortalecida numa ambiência gerada em uníssono pelas «Voices» de Russ/público. Seguiu-se «I can´t hear you no more», sustentado no início pela voz em exemplar sequência de notas altas e subida de tom. Antes da interpretação de «The fire still burns», sabiamente Russ fez-nos reflectir *porque sendo o Homem um ser inteligente, porquê a existência da guerra? Fará algum sentido o que se passa no Iraque e noutros locais do globo?*
Revelando-se um comunicador e conversador cortês, atento e interessado, sem enveredar por discursos longos ou melancólicos no anúncio do nome das composições e na evocação à necessidade de estimar a vida e o nosso semelhante, introduzindo «Like father like son» («Tal pai tal filho»), convidou os pais a dar as mãos aos filhos presentes no concerto, obtendo reacção eufórica das famílias que interagindo, conheceu mais um tema de «Book of love», título do autobiográfico e último álbum (2006).
Quando, temporariamente, a cabeça de cartaz saiu do palco, deixando a interpretação vocal a cargo do guitarrista secundário, o público temeu entrar naquele ramerrame que, por vezes, mancha as actuações. Mas o show não foi posto em xeque, porque após um tema, Ballard regressou acompanhado de uma loirinha (cerveja), brindando o auditório com *cheers*, e por uma cantora que provocou olhares interesseiros na assistência masculina e quiçá na feminina... Assim, assistimos a um medley muito fluído com passagens pela música escrita e produzida para os America («You can do magic») e para outra loura, a Frida dos ABBA («I know there´s something going on»). Tempo ainda para uma sentida homenagem ao génio que reinventou a Pop * Michael Jackson * falecido na véspera e recebida com respeito e agrado pelos presentes seres mortais.
Outro bom momento foi o ritmado «Crazy world» e o saudoso «A woman like you». Já em encore, repetiu «I can´t hear you no more», ornamentado com nova roupagem nos arranjos.
Ao longo de duas horas, Russ Ballard recompensou o público despido do estatuto de estrela, abdicando de se sobrepor aos restantes instrumentistas. Como virtuoso guitarrista (que começou por aprender a tocar piano dos 8 aos 12 anos), optou por não cair no exagero de fazer solos que nunca mais acaba. Sem nunca tirar os óculos escuros, que supostamente ocultam as marcas da dezena de intervenções cirúrgicas à vista, ocorridas na adolescência, revelou-se uma individualidade humilde e disponível para agradar, com registo vocal afinado nos 21 temas entoados.
A julgar pelas reacções da audiência, que no final aplaudiu de pé, o sexagenário artista deu festa...
Ghost4u
(2009/VII/15)
1 comentário:
Muito obrigado por fazer uma reportagem de um grande artista que infelizmente passou ao lado daqueles que reinam a comunicação social no nosso país .
obrigado
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