A noite em que todos desejámos ser Camel(os)
Domingo, 16 de Março,
sob a noite pré-primaveral, os Camel apresentaram na lotada Aula
Magna, o passeio turístico The Snow Goose, evocando quatro
décadas de carreira num mundo em aceleração que impede que seja
perceptível o passar do tempo, conjugando ousadia e sofisticação
de arranjos, dirigido a um público de cabeças grisalhas que
constituía a maioria e um número considerável de adolescentes que,
sendo uma fase da vida com alguma dose de irreverência, é sobretudo
marcada por descobertas. Essa assistência mais nova, atentamente
escutou a sonoridade que marcou um determinado momento da música
mais divulgada no século XX, à medida que vão percebendo o papel
que este grupo desempenhou na vida dos seus progenitores, através de
composições de inevitável antítese à monótona música fast
food, divulgada no quotidiano panorama radiofónico.
Num palco despido e
reduzido ao essencial, onde o fundo é preenchido em azul-escuro com
pequenos pontos de luz que dão um ilusório fenómeno óptico do céu
estrelado, a primeira parte do concerto foi preenchida pela integral
passagem sonora do terceiro álbum do grupo - «The snow goose»
- em tributo ao falecido Peter Bardens. Aliás, sendo o camelo um
animal habituado a terra árida e a inóspitas condições para o
homem, apesar de tudo, os Camel celebram ciclicamente a vida,
porquanto o singular líder da banda, Andrew Latimer (guitarra,
flauta e voz), durante vários anos passou por um dos momentos mais
dolorosos e difíceis da sua vida, lutando contra uma doença
terminal.
Após o intervalo, surge
o legado musical marcado por uma personalidade única do rock
progressivo destes britânicos, que ganharam seguidores um pouco
por todo o planeta. Interpretando canções do passado («Never
let go», 1973) e do passado mais recente, o calejado baixista
Colin Bass, como um elemento catalisador da banda e um pêndulo
juntamente com Denis Clement (bateria), no desenvolvimento das linhas
rítmicas, demonstra uma eficaz vocalização na história «Fox
Hill» (2002), aliada à aplicação da cor verde na coreografia
desenhada pelo jogo de luz, quiçá referência à vitória do
Sporting no clássico frente ao F.C. do Porto, com um golo obtido em
offside, que parece confirmar que foi produtiva a pressão
exercida sobre os homens do apito, numa semana em que os protestos
subiram de tom ao incorporar o Movimento Basta, demonstrativo
da indignação dos leões face às arbitragens. Oh! A bola…
Fujamos depressa deste assunto montuoso.
Vamos à descrição do
desempenho de Latimer. Se pensa que este é mais um guitarrista que
está velho e acabado, desengane-se. É que por trás da aparência
não ocultar a idade (66 anos), esconde-se um excelente executante de
guitarra em pé de igualdade com Frampton, Clapton, Gilmour,
Bonamassa ou Mayer, destacando-se não só nos solos, como no ritmo e
nas subtis nuances aplicadas de forma límpida como cristal sobre a
execução das teclas de Guy LeBlanc e de Jan Schelhaas.
Por
duas ocasiões, em «Song within a song» e no tema que
preencheu o encore - «Lady fantasy», incluso no álbum
«Mirage», de 1973 – o público agradado com a prestação
e a atitude singela e grata da banda, acompanhou o ritmo com palmas,
surpreendendo os músicos, visto que nenhum fez tal solicitação.
Após a actuação, foi notório o parecer favorável da assistência
que participou num concerto que em nada esteve no limiar do tédio,
fazendo esquecer ao longo de quase três horas, o teatro político
nacional, que tem como protagonistas actores medíocres que exercem
um controlo obsessivo com o colete-de-forças do euro que, tal como o
inseguro Secretário-Geral do PS, em crise de ideias/planos
clarividentes para erguerem o país, afigura-se que continuarão a
sufocar o cidadão e o futuro do país no chamado pós-troika.
Blá-blá-blá:
Ghost4u
Tiro
ao boneco: *©OsMi©_KeY§*_®
Penetra:
Ricardo Santos
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