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2010/11/06

Steve Hackett 2010

Peço desculpa aos leitores do Culto pelo atraso na reportagem de mais um grande momento na emblemática Aula Magna.

"No Verão, foi anunciado que o roteiro da Train on the road tour, de Steve Hackett, passava por Lisboa. Fruto da impotência dos governantes em melhorar a situação económica do nosso país, desde Agosto que alguns admiradores do músico, começaram a fazer poupanças para a aquisição do ingresso (€38 a €45) ao concerto agendado para a penúltima Sexta-feira de Outubro.

O espectáculo iniciou-se oito minutos depois da hora marcada. Nick Beggs (baixo e voz), de farta cabeleira branca, cartola em feltro, casaco comprido, calça preta e botas altas, fez-se notar entre os companheiros. Steve, num look nada chique, posicionou-se ao lado esquerdo do palco, entre o teclista Roger King e Amanda Lehmann (guitarra e voz), fazendo reflectir sobre o que é mais importante: o estilo ou a substância?
Hackett é um ser normal. Na verdade não é tão normal como a vulgaridade dos mortais. É um talentoso guitarrista. Mas é também acessível. Ciente de que a comunicação oral é tida como uma competência indispensável, sobretudo no contexto profissional, simpaticamente dirigiu-se à assistência expressando-se na língua de Camões, declarando: “A relação com o público é como um acto amoroso. O meu português não é perfeito… Agora, uma canção de um conjunto pouco conhecido”, disse o músico a brincar, referindo-se a «Carpet Crawlers», cantado pelo baterista. Seguiu-se «Ace of Wands», traçado de simultâneos solos dos teclados e da flauta de Rob Towsend, com dose considerável de contratempos na bateria de Gary O´Toole (fazendo lembrar os tempos áureos do executante Phil Collins).

Decorrente da coadjuvação da pedaleira que conferiu intensa ambiência nos sons do clarinete, a introdução de «Steppe» é digna de figurar numa cena da saga Aliens. Depois do calmo «Serpentine», sucedeu a assinatura de jazz fusão, gerada pelo turbilhão rítmico imposto pelos sintetizadores, baixo e saxofone em «McBride».


A reputação de virtuoso instrumentista é atestada quando fica sozinho com a guitarra clássica, interpretando «Rainbows» e «Horizons», constituindo um triunfo e um momento precioso para o auditório. Antecedendo o encore, vivem-se momentos de elevado estado emocional com o blues «Still Waters» e o rock`n`roll de «Los Endos», onde Steve toca guitarra com o antebraço, como se estivesse a serrar.
Às 23h36, a histeria toma conta de alguns elementos do público quando chamam ao palco o londrino de 60 anos e a Electric Band. De regresso, «Firth of Fifth», do álbum «Selling England by the Pound» dos Genesis – banda onde permaneceu sete anos (1970-1977) – entoado por Gary, que neste e noutros temas, comparativamente a Hackett, demonstrou melhor registo vocal.

«Clocks», o último motivo musical, começa com uma dança entre o baixista e o saxofonista. A meio, cinco dos músicos abandonam o estrado, ocupando os lugares laterais destinados à imprensa, onde várias vezes, Amanda repousou, talvez por estar de esperança (das duas dezenas de composições, participou em 11). Gary, isolado no palco, oferece um tenso solo de bateria, executado a maior parte do tempo, unicamente com tambores (à semelhança do terceiro álbum de Peter Gabriel).

Aos 5 para a meia-noute, a emblemática sala Aula Magna, despediu-se de Steve Hackett, que concedeu uma lufada de ar fresco aos apreciadores de rock progressivo, os quais, ao longo de 137 minutos esqueceram a tão badalada crise. É por esse e por outros motivos que a música também tem efeito terapêutico. Viva a música! "

Blá-blá-blá: Ghost4u
Tiro ao boneco: Maxmix
Convidado (Penetra): Cosmic Keys



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