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2011/05/04

Os Putos Vieram Divertir-se

Os Putos Vieram Divertir-se

Altas, baixas, morenas, brancas, loiras, ruivas, de cabelos castanhos, magras, roliças e vestidas de negro, exibem estandartes e fazem-se acompanhar por cavaquinhos, guitarras portuguesas, violas, flautas, concertinas, contrabaixo, violino e tambor – eis a Tuna Académica A Feminina, da Faculdade de Farmácia de Lisboa, composta por 43 elementos, que mostram à vontade no desígnio e missão de fazer a primeira parte do espectáculo “Porquê?”, cuja designação constitui o título do novo álbum da banda de Almada. Com meia dúzia de temas, entre os quais uma canção entoada em mirandês, e a «Desfolhada», conjugam a alegre interpretação com coreografia que exige boa condição física, funcionando como um íman para quebrar barreiras entre plateia e o palco da Aula Magna.

Ao som introdutório de «Nativos», é projectado um painel repleto de retratos que pertencem à memória do nosso país, que vão desde a monarquia ao tempo presente. Esta ousada arquitectura cénica, despertadora de sentimentos díspares, tão comoventes como perturbadores, estão presentes durante a prestação dos UHF, que sobem ao palco às 22h32 para tocarem 26 temas do colorido historial de 3 décadas de carreira, cheia de bons momentos, muitos encontros, incalculáveis quilómetros de estrada e várias formações, onde a actual, conta com a dupla pai (António Manuel Ribeiro, voz e guitarra) e filho (António Corte Real, guitarra), dando, assim, vida e auto-regeneração ao grupo.

A actuação começa com «A Última Prova», dando lugar a «Matas-me Com O Teu Olhar», pautado por um falso fim, onde o guitarrista, exprimindo os acordes, leva a audiência a cantar o refrão. “Não sei se é por a sala ser mágica e por estarmos em casa, mas estamos nervosos”, afirma o vocalista antes de «Um Copo Contigo», acrescentando, em «O Vento Mudou», tendo como pano de fundo o retrato de Salazar, “é bom sentir o peso da responsabilidade de tocar outra vez nesta sala”.

Possuindo o extraordinário dom de saber expressar-se por meio da selecção de palavras que permitem a comunicação concisa, António, antes de abordar «Cai o Carmo e a Trindade»(retrato de Mário Soares), procurando sensibilizar as memórias adormecidas através da análise de ideias e sentimentos comuns, reflectindo sobre as cicatrizes deixadas por conceitos desajustados na conjuntura da sociedade actual, alertou que “o mal de tudo é quando passamos a ser corcundas, ou seja: sabemos que está mal, mas deixamos que continue na mesma”.

Entrando nos clássicos mais antigos, os UHF conduzem a viagem até ao álbum «Persona Non Grata», recordando «Dança de Canibais», interpretando, sem pausa, «Estou de Passagem», repleto de beleza evocada pela exactidão da sonoridade idêntica ao registo de estúdio (1981), demonstrando competência notável e um cuidado elevadíssimo na obtenção desse resultado, nem sempre conseguido por bandas de renome internacional. “Um amigo nosso teve a feliz ideia de abusar de um dos nossos temas”, referindo-se a «Rapaz Caleidoscópio», apresentando Armando Teixeira, dos Balla, surgido no palco, ostentando o LP «À Flor da Pele», que no final da interpretação foi autografado pelo mentor e membro mais antigo do grupo. O forte e puro ritmo do rock´n´roll, abranda para que os sentidos fiquem mais dispersos, viajando até «Sarajevo», com o auxílio do piano de Nuno Oliveira e a voz de Ivan Cristiano (bateria).

“Neste novo disco, «Porquê?», temos uma canção que fomos buscar ao repertório de José Afonso – «Vejam Bem» – à maneira dos UHF”, disse o cantor, acrescentando na introdução de«Devo Eu» (retrato de Álvaro Cunhal), que “quando acabámos de gravar o álbum, decidimos que temos um disco para ser todo tocado ao vivo”.

As guitarras e a bateria, num crescendo desgarrado, expõem «Esta Dança Não Me Interessa». Logo de seguida, é projectado o retrato de Otelo Saraiva de Carvalho para o impressionante «Os Putos Vieram Divertir-se», onde uma vez mais é afirmado que “vale a pena chegar aqui com este ambiente, porque com esta forma de celebrar, os putos estão aqui para mostrar como tudo começou”. Regressando ao recente disco, «Quero Entrar Em Tua Casa» é “uma música que nós queremos que a editora faça dela uma canção de rádio”, deixando comprometido o representante da etiqueta discográfica que distribui o CD.

Com o pungente e agreste ritmo de «Modelo Fotográfico», num pinote, o público fica de pé até à canção «Menino». À meia-noite e dez, o espectáculo tem de continuar, dando lugar ao primeiro encore. Referindo-se ao monumento Cristo-Rei, António, numa linguagem tropológica, recorda que “a imagem de Cristo quando olha para o local onde os governos estão instalados em Lisboa, pergunta: o que é que vocês estão a fazer a este país?”, dando o mote ao tema«Porquê», cruzando os factos degradantes da vida de Portugal. “Poucas vezes apresentamos soluções… Apresentamos perguntas, encolhendo os ombros… Mas, o país somos nós, as pessoas, o sangue que mexe!”. Enquanto tais palavras eram proferidas, interagindo intensamente, olhos nos olhos com o público, a Tuna volta a posicionar-se no palco para partilhar«Portugal – Somos Nós» e «Nevoeiro» – tema com ritmo de marcha, aproveitado pelo anfitrião para transmitir um sinal positivo que deve aclarar o horizonte, levando a ponderar e a pensar sobre o papel do cidadão para a construção de uma sociedade inconformada e mais madura, coesa e interventiva, indispensável para restaurar e melhorar a qualidade de vida do país e do respeito dos governantes para connosco, porquanto “é agora a hora e não sabemos se haverá outra”. Revelando a sua profunda honestidade, sublinha “ouço as palmas e agradeço o retorno que vocês nos dão. Um concerto de rock´n´roll pode ser tudo! As canções são ideias condensadas. Vocês são «Sonhos na Estrada de Sintra». Mas, quero dizer que hoje, aqui, nesta sala concentrada, Portugal precisa de nós! Vamos dar ao país em vez de pedir. Eu estou a dar o meu coração. E, é assim que se faz emoção, hoje, na Aula Magna, convosco!”

Às 0h40, o auditório constituído por três gerações, queria continuar a jornada pelas obras dos UHF. António Manuel Ribeiro, depois de perguntar “querem mais?”, sugere que“também têm que dar mais”, dando lugar à sequência composta por: «Cavalos de Corrida», «Rua do Carmo» e «Menina Estás à Janela».

Faltavam 9 minutos para a 01h00, quando dão o concerto por terminado, dizendo “obrigado por esta noite. Nós vamos continuar a vermo-nos por aí. Hoje, tivemos uma noite cheia por vossa causa, por causa das músicas que vocês gostam. Nós estamos mais ricos em emoções”. Certamente que a assistência, também partilha semelhante sentimento, porque esteve num grande concerto onde foram colocadas questões pertinentes e desejos sobre a nossa pátria, num discurso que prendeu a atenção até ao fim, proveniente de um dos melhores escritores portugueses de canções, indiciando que a estrela dos UHF ainda vai brilhar por muito tempo.
Entretanto, analisando a carreira deste grupo e do seu fundador, questiono: será Rui Veloso o pai ou o único progenitor do rock português?

Blá-blá-blà: Ghost4u

Tiro ao boneco: Maxmix

O penetra do costume: *©OsMi©_KeY§*_®

2011-V-02





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