Sem pretender politicar esta narrativa, a moldura que envolve a nona noite de Outubro, remete-nos para a Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, onde, às 20h43, os “alunos” Rui Godinho (vocalista, teclado e percussão), Pedro Cravo (guitarra eléctrica e voz), Carlos Martins (baixo) e Sérgio Campos (bateria) – membros dos ATRIUM – apresentaram-se para interpretarem quatro temas. Na actuação iniciada a meio-gás, com uma composição de 12 minutos, deambulando em variações rítmicas, foi notória a exagerada amplificação e descontrolada equalização do baixo, prejudicando o rendimento sonoro. A prestação de Godinho, ainda que tenha ficado uns furos abaixo do registo discográfico e o desempenho dos restantes elementos, algo preso às raízes do rock progressivo e ao peso da responsabilidade de aquentar a plateia para a posterior palestra dos mestres, não definhou o desempenho, demonstrando concentração e bom trabalho de coordenação entre bateria/baixo, apoiado por solos de guitarra bem executados. Com à vontade e sem mácula, encerraram a prestação, interpretando «Great man», dedicado a Leonardo da Vinci, recebido com expressiva satisfação pelos fans.
(Atrium)
21h45. Depois do intervalo aproveitado para mordiscar alguma coisa no bar, a sala está repleta. Público maioritariamente trintão, quarentão e algumas individualidades cinquentenárias, está disposto a curvar-se ante a entrada dos cinco elementos dos BARCLAY JAMES HARVEST, os quais arrumam-se no estrado, sem ocuparem a zona central da frente do palco. Jonh Lees (voz e guitarra) e Wooly Wolstenholme (voz, guitarra, sintetizadores e teclado simulador do som de orquestra, denominado mellotron), são as personagens resistentes da formação inicial.
(BJH)
Não obstante a idade avançada e a vastíssima experiência, por vezes Wooly, esquecido do alinhamento, consultava o baixista para saber qual o tema seguinte. Tais lapsos perceptíveis ao público, geraram risos, aos quais o ancião reagiu bem, comunicando e fazendo paródia da situação. Ora, é costume dizer-se que “a idade não perdoa”, mas, para esta banda com 42 anos de existência, essa afirmação é irreal, porquanto sabem estar em palco com plena consciência que podem estar a viver um momento de glória e, de um momento para o outro, uma reacção imprevista ou uma má resposta à atitude do público, fará com que o espectáculo e a cumplicidade com a assistência fique comprometida e ferida. Ao fim e ao cabo, o procedimento em palco foi despido de arrogância e testemunhado pelo auditório, que sentiu uma real comunhão cheia de emoções. Foi com este princípio que nenhum músico tocou com o costumismo extravagante de fazer soar uma nota pedante que despertasse especial atenção sobre o seu virtuosismo. De facto, mesmo quando o tímido John, que nunca olhou fixamente para o público, falhou um solo de guitarra derivado a cãibras na mão, o acompanhamento interpretativo dos instrumentistas foi feito sem escorregadelas.
(BJH)
Quanto ao trabalho técnico, o som só foi prejudicado pelo descuido do sonoplasta, que raramente conseguiu captar a voz de Wooly, de forma a torná-la bem audível. Na parte cenográfica gerada pelo jogo de luz e cor, nada a registar, visto que foi apropriado q.b. para enriquecer a aura envolvente de cada música.
Em duas horas era impossível, à banda britânica, tocar todo o seu extenso reportório, ficando de fora o saudoso hit de 1984 – «Victims of circumstance». O espólio explorado, teve por base as melodias simples que constituem matéria-prima da história do rock sinfónico na ecléctica década de 70, envolvendo em requintados arranjos os êxitos «Paper wings» e «For no one», e os reconhecíveis temas dos álbuns «Once again», «Time honoured ghosts», «Octoberon», «Gone to earth» e «XII».
Após quinze temas, de súbito o palco ficou vazio. De pé, o público reagiu de forma atinente e calorosa. Os músicos regressam à sala, preenchendo o encore com dois temas que deixa a assistência jubilosa (especialmente o pessoal oriundo de Anadia e Aveiro, situado na primeira fila).
1 comentário:
Obrigado pela reportagem. Também estive lá a recordar os meus tempos de teenager :-). Claro que ele não podiam tocar tudo, mas tive pena de não ter ouvido «How do you feel now» do álbum Turn of the tide.
Johnny
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